quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Medo do risco

Num primeiro momento operar o mercado pode parecer algo vazio e egoísta. O objetivo final é gerar lucro, produzir uma diferença positiva entre o preço de compra e o preço de venda. Mas a realidade do mercado é muito mais profunda. O ambiente de bolsa é um simulacro da realidade humana, tanto nas suas qualidades quanto nos seus defeitos.

Podemos aprender muito sobre a estrutura da realidade e sobre nós mesmos operando os mercados. O primeiro conceito aprendido é o risco. O impulso imediato de qualquer novato é buscar os maiores ganhos possíveis, sem avaliar os riscos existentes. A verdade é que existem muito mais riscos do que podemos imaginar. Todo o circo é montado para criar uma idéia de ordem e controle, num ambiente caótico. Existem infinitas possibilidades de desdobramento para qualquer situação.

Um homem acreditava que tinha informações sobre uma empresa que estava prestes a ganhar uma grande ação na justiça. Ele então pegou toda a sua reserva financeira e se endividou para comprar opções de compra de ações dessa empresa, investiu mais de um milhão de reais na operação. Era a grande tacada da sua vida, caso tudo corresse bem ele ganharia mais de dez milhões de reais. A decisão favorável de fato ocorreu, no dia 12 de setembro de 2001.

Como ele poderia imaginar um atentado terrorista como aquele? Como mensurar esse risco? Existem milhares de possibilidades a cada dia, o que torna o futuro distante exponencialmente imprevisível. Tenha isso em mente no momento de montar uma operação no mercado ou tomar uma decisão importante na sua vida pessoal ou no seu trabalho. Tenha um plano B e um plano C. Nunca deixe uma única decisão errada arruinar tudo.

A segunda lição que o mercado passa é sobre o medo. O medo é uma reação instintiva ao perigo. Quando estamos inseridos numa situação que pode gerar um dano, o medo aparece, especialmente se há uma experiência negativa parecida gravada na nossa memória.

O medo foi um mecanismo de sobrevivência muito importante nos primórdios da história humana, pois ele produzia uma forte reação motora dando uma vantagem ao sujeito em perigo de vida. Hoje não há perigo de vida nas operações de mercado (desde que você não esteja alavancado), mas a reação química no organismo segue as mesmas características dos nossos ancestrais. E nesse caso o problema está relacionado ao desligamento da razão e uso dos nossos instintos primitivos. Na maioria das vezes isso levará a decisões ruins e perda de dinheiro nas operações.

O medo será gerado quanto maior for o trauma de uma situação vivenciada no passado. Para quem já passou por uma grande perda poderá ser mais difícil para controlar o medo de operar. Além de poder gerar um rápido apagão nas partes responsáveis pelo raciocínio lógico no cérebro, o medo pode produzir um comportamento ilusório, onde desenvolvemos uma esperança maior do que a razoável num desfecho positivo para uma determinada situação. Novamente, a incerteza inerente à realidade pode produzir situações desagradáveis. Fazer de conta que um cenário ruim é impossível não diminuirá as chances que ele de fato se apresente. Na verdade essa atitude vai apenas diminuir a nossa capacidade de preparação e atitude diante da situação desfavorável. Essa característica da vida é demonstrada com maior clareza nos mercados.

O quanto militares, governantes, executivos, médicos e outros profissionais já erraram por desconhecimento dessa dinâmica humana? Quantos já tomaram péssimas decisões por estarem cegos pelo medo, seja por uma forte reação instintiva de sobrevivência ou pelo otimismo exagerado? Durante a crise que assola boa parte do mundo desde 2007 observamos um festival de falsa esperança e outras reações emocionais produzidas pelo medo que na minha opinião só fizeram piorar a situação.

Enfim, operar o mercado é olhar no espelho e descobrir mais sobre nós mesmos e sobre a realidade onde estamos inseridos. Além de ser uma atividade que pode gerar ganhos financeiros, ela também pode produzir um grande crescimento pessoal com o desenvolvimento da capacidade de entender o mundo e tomar melhores decisões para a sua vida.