sábado, 22 de outubro de 2011

Filé de ações pro almoço

No mercado acionario, as baixas costumam causar angústia e desespero. Menos para Masatoshi Yamashi, um dos poucos especuladores de pequeno porte especializados em tirar proveito das quedas de preço.
É na baixa que ele ganha mais. Por isso é comum encontrá-lo sorridente quando a maioria das pessoas anda de fisionomia soturna. Ele não seria propriamente popular no ambiente do microcosmo da Bolsa - não fosse a sua extrema modéstia. Um contrapeso para o post anterior, do Novato Deslumbrado.
Yamashi conseguiu a perfeição de praticar aquilo que os manuais clássicos recomendam, mas que só está ao alcance de uns poucos profissionais consumados - vender na alta e comprar na baixa.
Provavelmente sem saber, ele segue a "Teoria da Opinião Contraria", segundo a qual o consenso dos investidores sempre está nevitavelmente errado. Essa teoria diz também que, para ter sucesso na bolsa, ocê dee sempre estar do lado da minoria. "Sempre na contramão", com oYamashi define sua técnica.


Masatoshi Yamashi veio do Japão em 1960 e começou a operar na Bolsa de São Paulo alguns anos depois. Desde aquela época, não mais precisou trabalhar para viver - e isso no estrito senso que se dá o verbo.
Seu trabalho hoje é de outra natureza. Ele faz gráficos, a capricho, com aquela meticulosidade típica dos Filhos do Sol Nascente. São gráficos bonitos. Não têm linhas de resistencia nem de suporte, nem flamulas, nem cunhas, nem triangulos, nem topos duplos. Só tem figuras que mais parecem bananas de dinamite amarradas uma à outra, em duas cores, vermelha para baixa e azul para alta.
-Está vendo aqui estas varras de baixas, 3 dias seguidos?- pergunta ele depois de desenrolar seu gráfico. - Quando isso aconteceu fui conversar com as pessoas. Todas estavam muito tristes. Pessoas tristes fogem da bolsa. Então eu entrei comprando.
O dedo desliza para as barras azuis, no ponto mais alto.
-Aqui as barras estão mais compridas. Alta braba, mas que logo ficou sem força. Saí para conversar com as pessoas. Todo mundo estava contente. Então entrei vendendo. Hoje não tenho mais nenhuma "açôn", só tenho dinheiro.

Yamashi não se mantém numa posição por mais de 3 meses, que é o máximo de tempo necessário para que a Bolsa complete seu ciclo de alta e baixa, segundo ele. Não tem afeição por nenhum papel. Jamais recebeu um centavo de dividendos. Só se interessa por papéis de alta liquidez, que lhe dêem a possibilidade de mudanças rapidas de posição.
Yamashi deixa para intelectuais a explicação sobre o fenômeno da existencia de "tanta gente lunatica", vulgo Novatos Deslumbrados. Mas,consente que esses malucos sempre existiram e provavelmente sempre existirão enquanto durar a bolsa.

U m de seus grandes cuidados operacionais é jamais tentar comprar  no ponto mais baixo nem vender no pico da alta! Isso seria um atentado ao bom senso e à sua técnica de tabalho. Para explicar seu ponto de vista, ele usa uma imagem muito sugestiva:
-Você não come nem a cabeça nem a cauda de um peixe.
O sentido é óbvio. Se o papel está no fundo ninguem está certo se vai cair mais ainda. A compra só deve ser feita  quando ha  certeza de que o Mercado reverteu. Mas essa certeza só ocorre quando você ja perdeu pequeno percentual, ou seja, a cauda do peixe. Da mesma forma, só deve vender quando a alta está forte. Você vende; se o papel sobe mais, você perdeu a cabeça do peixe, mas ganhou o filé, a parte melhor, a que lhe deu a certeza de ganhar. Tanto na alta quanto na baixa, a parte do filé é que teve liquidez.
Como todo ser humano, Yamashi também está sujeito a erros. Um dia, seus gráficos e todos os demais apetrechos indicaram compra, mas houve reversão inesperada. Saiu uma notícia ruim, o Mercado "azedou". Yamashi liquidou sua posição quando o prejuízo atingia 10%, e ele foi pra casa:
-Era preciso limpar a cabeça, - explica.
Isto é , era preciso esquecer. Esquecer negócio malfeito é a melhor maneira de ter paz de espírito e de reagrupar as energias para começar tudo de novo.
Ir pra casa, e almoçar tranquilamente. Filé de peixe, de certo!